ESTUDOS > Estudos Diversos
Maria - Tipologia
ASSOCIAÇÃO JESSE DE ARAÇATUBA
“JESUS É O SENHOR”
Rua Aquidaban, 731 – Vl. Mendonça - CEP 16015-100 – Fone:(18) 3624-2264 - Araçatuba-SP
CONTRIBUIÇÕES:  Bco. Itaú - agência 7158 / conta corrente:  00021-1
 
MARIA (Tipologia)
                                                                                                    Maio 2004
 
“Assim como no céu, onde já está glorificada em corpo e alma, a Mãe  de Deus representa e inaugura a Igreja na sua consumação no século futuro, da mesma forma nesta terra, enquanto aguardamos a vinda do Dia do Senhor, ela brilha como sinal de esperança segura e consolação diante do povo de Deus em peregrinação”.    LG 68
 
                Ao estudarmos sobre Maria, mãe de Jesus, temos muitos aspectos que poderiam ser vistos, e dentre eles, tomaremos alguns pontos para reflexão e aprofundamento, a fim de não nos estendermos demais.
            Na exegese bíblica, temos o estudo da tipologia, que seria o estudo das constituições, temperamentos e caracteres de um indivíduo em relação a outro, isto é, existem pessoas na bíblia que são ‘tipos’ de outras, por exemplo: Moisés, por suas características é um  tipo de Jesus, assim como José, filho de Jacó, e Melquisedeque, rei e sacerdote de Salém. Também existem aqueles que são ‘antitipos’, isto é, são os opostos de outrem, como por exemplo Adão e Jesus.
            Em relação à Maria, vamos estudar esta tipologia, no sentido de que Maria é um ‘tipo’ da Igreja, conforme o documento LG 63: ...sendo a realização exemplar (typus) da Igreja”.
            Sabemos que em sua pedagogia, o Senhor, para nossa melhor compreensão, nos faz aprender as realidades espirituais, primeiro no concreto (da mesma forma que a criança  pequena aprende calcular primeiro no concreto, para depois fazê-lo no abstrato). O Senhor conhece nossas limitações e sabe que precisamos aprender passo a passo as realidades espirituais. Dessa forma, para que possamos entender o papel crucial da Igreja no plano de Deus, temos a vida de Maria, chamada de Mãe da Igreja pelo papa Paulo VI no Concílio Vaticano II.
            Iniciaremos, pois, pelo chamado e preparação de Maria para gerar o Salvador. Em Ef  1, 4.11.12a: e nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos. Nele é que fomos escolhidos, predestinados segundo o desígnio daquele que tudo realiza por um ato deliberado de sua vontade,  para servirmos à celebração de sua glória”.
            Maria, foi escolhida em Jesus, predestinada segundo um desígnio de Deus, para glorificá-Lo e preparada por Ele para esta missão, pois aos que predestinou, também os chamou; e aos que chamou, também os justificou; e aos que justificou, também os glorificou” (Rm 8,30). Antes dela nascer, com o cuidado de preparar até sua genealogia, o Senhor já vinha trabalhando, para que quando chegasse a “plenitude dos tempos” (Gl 4,4) ela pudesse gerar Jesus. É impressionante pensarmos que toda a história do universo foi preparada para que neste período de tempo em especial, o Messias pudesse ser gerado! E com que zelo, Aquele que é Senhor de todo Universo, preparou Maria! Em toda sua vida nada foi coincidência, mas sim providência: a família em que nasceu, os parentes (Isabel, por exemplo), o amor de José para com ela, o noivado, enfim cada detalhe de sua vida anterior à anunciação, foi cuidadosamente preparado para aquele momento tremendo em que o destino do universo estava atrelado ao livre arbítrio de uma simples menina!
            Da mesma forma, traçando o paralelo com a Igreja, observamos o zelo do Senhor na preparação de sua amada Igreja! Desde os primórdios dos tempos, preparando  o nascimento de sua Igreja, desde o chamado de Abraão para ser uma benção para todas as nações, até a separação de um povo para si (Israel) e toda a história deste povo eleito, tudo conflui para a Igreja, pois como quis o Senhor depender de uma simples e humilde menina para gerar o Messias, também quis depender de Sua Igreja para trazer e manifestar Jesus ao mundo! Assim como Maria dá à luz um filho: Jesus; assim  a Igreja traz e manifesta esta Luz ao mundo! Maria foi eleita, escolhida para gerar Jesus, e não só gerar, mas cuidar de seu crescimento e educação. Na Igreja, nós, fomos eleitos, escolhidos, para que Jesus fosse gerado e crescesse nela, para que pudesse ser manifesto ao mundo.
            Desta forma, como Igreja, mas também individualmente, cada detalhe de sua história, desde a preparação, nascimento, missão e escatologia, está debaixo da providência de Deus. Podemos, com Maria, louvar ao Senhor exultando em sua Palavra que diz: todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios”(Rm 8,28).
            Em relação à anunciação (Lc 1, 26-38), podemos estabelecer também este paralelismo, pois o anjo trouxe-lhe uma mensagem, uma palavra de Deus, que ao ser aceita pela fé, permite que o Espírito Santo a cubra com sua sombra e Jesus seja gerado nela, cumprindo-se em Maria a parábola de Jesus do semeador que lança a semente em terreno fértil, produzindo frutos a cem por um, isto é, o máximo de frutificação    (Lc 8,5-8)! Assim também, acontece com a Igreja: nasce de uma palavra de Deus recebida com fé, mais a ação do Espírito Santo, para que produza frutos de justiça. Individualmente também, é o mesmo processo para conversão de cada novo membro da Igreja: é necessário um mensageiro que traga a Palavra de Deus (anúncio), a fé para crer nesta palavra e o sim (Fiat) à esta palavra (cumpra-se em mim segundo a palavra do Senhor) para que venha o Espírito Santo e gere Jesus, produzindo o novo nascimento   (Tg 1,18; I Co 4,15b; I Pe 1,23).
            Após o  anúncio e já grávida de Jesus, vemos Maria saindo para visitar Isabel e serví-la, tipificando a renúncia de si mesmo que acompanha a conversão  e o chamado a servir da Igreja, que deve ser uma benção para o mundo (Mt 5,14). Este passo produz louvor (magnificat) e tipifica uma Igreja que serve ao irmão e adora Seu Senhor, que conhece Sua Palavra e a manifesta entoando a Ele todo louvor, mesmo em meio às dificuldades - Maria ainda não sabia qual seria a reação de José, nem o que a aguardava quando descobrissem sua gravidez; louvava pela fé - (Sl 106 (107) 21,22).
            No nascimento de Jesus, vemos Maria, a mãe do Messias, do redentor da humanidade, do Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, caminhando pelos desertos numa jornada penosa e sujeitando-se a dar à luz numa manjedoura, na mais extrema pobreza, depois de ser rejeitada pelos homens que lhe negaram pousada. Isto tipifica uma Igreja que apesar de saber-se portadora de salvação para toda a humanidade, deve passar por uma longa e penosa jornada até que o Messias retorne em sua glória, ao mesmo tempo em que será rejeitada pelo mundo ao qual quer trazer a salvação, que é Jesus. Mesmo sabendo-se a Igreja de Jesus  Cristo, deve permanecer em humildade e pobreza. Em Ap 12 vemos a figura da mulher coroada, tipificando a Igreja e, portanto Maria.
            Tendo isto em conta, citamos o comentário de Santo Agostinho ao Apocalipse 12 (Homilia IX):
4-5 «O Dragão colocou-se diante da mulher...»: “A Igreja dá à luz sempre no meio de sofrimentos, e o Dragão está sempre de vigia a ver se devora Cristo, quando nascem os seus membros. Disse-se que deu à luz um filho varão, vencedor do diabo”.
6 «E a mulher fugiu para o deserto»: “O mundo é um deserto, onde Cristo governa e alimenta a Igreja até ao fim, e nele a Igreja calca e esmaga, com o auxílio de Cristo, os soberbos e os ímpios, como escorpiões e víboras, e todo o poder de Satanás”.
            Maria, assim como a Igreja, não pode salvar ninguém, mas pode conduzir a Jesus que é o salvador, pois:
Em nenhum outro há salvação, porque debaixo do céu nenhum outro nome foi dado aos homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4,12).
            Após o nascimento, Maria leva Jesus ao templo para apresentá-lo (Lc 2,22-39), cumprindo a lei. Recebe as profecias sobre Jesus e sobre ela mesma. Tipifica uma Igreja que ‘persevera no templo’ e na doutrina dos apóstolos (At 2,42), que se preocupa em cumprir a lei, pois Jesus não veio para abolir, mas para cumprir a lei (Mt 5,17). A profecia dirigida a Maria, sobre a espada que transpassaria sua alma, tipifica as perseguições da Igreja.
            Passa-se o tempo, Jesus está crescendo e sobe com os pais à Jerusalém, aos 12 anos (Lc 2, 41-52), na volta Maria percebe que Jesus não está com ela e volta para procurá-Lo tipificando o tempo em que a Igreja encontra-se em aflição, pois parece não ‘saber’ onde está Jesus, parece tê-Lo ‘perdido’, mas sabe que Ele sempre está cuidando das coisas do Pai (Jo 14,18)!
            Já adulto, Jesus está com Maria nas bodas de Caná (Jo 2,1-11) e vemos Maria atenta às necessidades dos noivos, coisa que talvez nem eles mesmos, envolvidos que estavam com a festa, tivessem percebido. Vai até Jesus e lhe pede que interfira, alterando as circunstâncias. Jesus a chama de ‘Mulher’, um termo  de estima usado na época, mas também unindo Maria à figura da Igreja, pois a Igreja é simbolizada pela figura da mulher, da noiva, em razão disto podemos inferir que quando Jesus se refere à Maria como Mulher está tratando com a Igreja. Caná ainda não era o calvário, mas apontava para ele e tornava possível o começo dos sinais. Do mesmo modo, a Igreja hoje deve estar atenta às necessidades do mundo à sua volta, intercedendo diante de Jesus, de forma que as circunstâncias sejam alteradas e os sinais sejam iniciados.
            Em todas as eras da Igreja em que houve muitos sinais e prodígios, sempre se vai observar um grande movimento de intercessão por parte da Igreja (At 1,14; Rm 12,12; Ef 6,18; 1 Tes, 5,17).
            Sabemos que os sinais e prodígios não são o fim, mas apontam para ele. Maria, pois, não é capaz de fazer milagres ou sinais, mas de clamar a Jesus a fim de que Ele os  realize e toda a glória seja sempre e eternamente dEle, amém.
            Na paixão de Jesus, observamos Maria presente em Jerusalém e acompanhando-o até a crucificação. Naquele momento, muitos, senão a maioria havia abandonado Jesus, mas ela permaneceu firme, em pé,  diante da cruz. Poderia ter se descabelado, revoltado, tentado impedir a sua morte, negando seu nascimento virginal, mas ela permaneceu em silêncio, consentindo em sua morte, porque cria que Ele era o filho de Deus e porque compreendia o alcance e o sentido de sua morte (Jo 19, 25-27). Foi neste momento que Jesus a entrega a João, como mãe. É interessante que Jesus só diz que tudo está consumado depois que deixa Maria como  mãe para seus seguidores. Temos aí, a tipificação de uma Igreja disposta a seguir Jesus até a morte, sem jamais abandoná-lo; ainda que todos fujam dEle nos momentos de dor, a Igreja permanece em pé, firme, porque crê no Filho de Deus e compreende sua  missão de sofrimento, uma Igreja que recebe todos os seguidores de Jesus como uma mãe recebe um filho.
            Por fim , temos a última aparição de Maria na bíblia, em At 1, 12-14, tipificando a Igreja orante, em busca e na dependência do Espírito Santo. A presença silenciosa de Maria junto aos discípulos, é um testemunho poderoso da divindade de Jesus, pois ela era o único ser humano que conhecia de primeira mão a origem dEle.
            Maria também é o antitipo de Eva. É a partir do texto de I Co 15, 20-27 e do de Romanos 5 que os padres da Igreja estabelecem a tipologia baseada num paralelismo antiético, entre Eva e Maria: Eva, associada a Adão no pecado e na morte; Maria, associada a Cristo na obra de reparação do pecado e na ressurreição.
            "Quis, porém, o Pai das misericórdias que a Encarnação fosse precedida da aceitação por parte da Mãe predestinada, a fim de que, assim como uma mulher tinha contribuído para a morte, também outra mulher contribuísse para a vida" LG 56.
            Maria satisfaz o coração de Deus, ao fazer o que Eva não fez: obedecer até o fim. Pela desobediência de Eva em função de deixar-se levar pela suas concupiscências, entrou o pecado e  a morte no mundo. Pela obediência de Maria, como conseqüência de uma vida de santidade e temor a Deus, veio a salvação para o mundo.
            Diz Santo Irineu: “O laço da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que a virgem Eva atou com sua incredulidade, a Virgem Maria desatou pela fé”. E ainda, disse S. Jerônimo: “A morte veio por Eva, a vida por Maria”.
            O nosso relacionamento, a nossa intimidade com Maria é essencialmente filial. A função de Maria no mistério da redenção leva em consideração dois dados fundamentais do Novo Testamento:
 
1)"que Cristo é o único Mediador entre Deus e os homens "(Rm 5,10 – 2 Cor 5,19-20 – 1 Tm 2,5 – Hb 9, 15; 12,24), como diz o texto de LG 62: “Com efeito, nenhuma criatura jamais pode ser colocada no mesmo plano que o Verbo encarnado e Redentor”; e ainda em LG 60: “ A missão materna de Maria em favor dos homens de modo algum obscurece nem diminui a mediação única de Cristo; pelo contrário, até ostenta sua potência, pois todo o salutar influxo da bem aventurada Virgem (...) deriva dos superabundantes méritos de Cristo, estriba-se na sua mediação, e dela depende inteiramente e dela aufere toda a sua força”. Logo, Maria não pode operar nada por si mesma, assim como a Igreja, mas em todo seu mover depende do poder  de Jesus, colocando-se então, como canal para a benção de Deus e para a humanidade pecadora.
 
2)   que a contribuição de Maria na obra da Salvação deve ser considerada na totalidade e unidade dos três momentos fundamentais da obra de salvação de Cristo, a saber: ENCARNAÇÃOMORTERESSURREIÇÃO, como diz o texto de LG 57: “Esta união de Maria com seu filho na obra de salvação manifesta-se desde a hora de sua concepção virginal até a sua morte”.
 
            Portanto, é importante que todo cristão entenda o importantíssimo papel de Maria no plano eterno de Deus, de forma que  tenha todo carinho e devoção por Maria, bem como possa seguir seu exemplo sublime da mais fiel serva do Senhor, sem no entanto, cair no extremo de colocá-la acima de Jesus. Aquele que ama Maria, deve seguir o mandamento da mãe: “Façam tudo o que Ele lhes disser”.
            Para encerrarmos tomemos o ensino de santa Teresinha do Menino Jesus sobre Maria:
 
   Não seria necessário dizer coisas inverossímeis, ou que não se sabem (...). Para que um sermão sobre Maria me agrade e me faça bem, preciso que veja sua vida real, não uma vida suposta; e estou certa de que sua vida real devia ser muito simples. Mostram a santíssima virgem inabordável, quando deviam mostrá-la imitável, fazer sobressair suas virtudes, dizer que ela vivia de fé como nós”.      (UC 21.8.3).