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Antigo Testamento / SABEDORIA 26
ASSOCIAÇÃO JESSE DE ARAÇATUBA
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ESTUDO VINTE E SEIS
 
SABEDORIA
 
PALAVRA-CHAVE:  Justiça
VERSÍCULO-CHAVE: 15,3
 
 
        Este livro faz parte dos livros deuterocanônicos da bíblia, que como já explicamos em estudos anteriores, são livros que não fazem parte do cânon da bíblia hebraica e protestante, escritos na língua grega e encontrados apenas na bíblia grega. Muitos autores judeus da época helenística escreviam em grego. Seu objetivo era, às vezes, o de explicar aos seus conterrâneos da diáspora que falavam grego ou liam apenas o grego, a validade e a importância dos antigos preceitos e da Lei judaica. Outras vezes, eles escreviam também para demonstrar aos gregos com os quais conviviam que o judaísmo tem práticas bem fundamentadas, antigas e de muito valor.
        É o último livro escrito no AT, ou seja, cronologicamente no fim do AT, num mo­mento fun­damental do diálogo entre o judaísmo e a cultura grega. A maioria dos estudiosos concorda  que a data em que foi composto seja por volta de 50 a.C., por um judeu que permaneceu anônimo, morador de Alexandria,  no Egito, onde residia uma forte comu­nidade judaica.
       O autor usa um “pseudônimo”, ou seja, usa o nome de salomão (cap. 7-9)  para dar maior credibilidade à sua obra, visto que salomão era o “sábio” por excelência segundo a tradição judaica. Como vimos em estudos anteriores, este era um costume comum na literatura da época.
       O livro foi escrito principalmente para os judeus da diáspora que viviam em Alexandria. Diáspora significa a dispersão do povo hebreu no decorrer dos séculos, a partir do exílio na Babilônia no século VI a.C., ou seja, judeus que saíram de Israel por causa de perseguição ou domínio de impérios estrangeiros. Podem ser comparados aos migrantes de hoje. Por razões políticas, econômicas, sociais e religiosas foram forçados a abandonar seu ambiente agrícola da Palestina para morar na grande metrópole de Alexandria. Isto causou a desagregação das comunidades judaicas e muitos conflitos. Muitos profetas como Jeremias, por exemplo, profetizaram a dispersão dos judeus pelo mundo devido à sua desobediência à lei.      
       Alexandria era um importante centro político e cultural. Era a capital do Egito e famosa por sua biblioteca (a maior do mundo na época). Seus habitantes eram na sua maioria gregos de todas as procedências e, portanto, a cidade logo se tornou o centro da cultura grega na época helenística e contribuiu para helenizar o resto do país de tal modo que quando chegaram os romanos todo o Egito era bilíngue (falavam grego e sua língua de origem).
       A cultura grega (helenismo) com suas filosofias, costumes, cultos religiosos, por um lado, e com a hostilidade dos pagãos e às vezes perseguição aberta (Sb 2,12), por outro lado, constituía uma ameaça à fé e à tradição cultural do povo judeu que morava no Egito. Para não serem marginalizados da sociedade, muitos judeus abandonavam seus costumes e sua fé, perdendo sua identidade própria para se conformar com a cultura grega (Rm 12, 2).  
       O autor, que conhecia muito bem as Escrituras e tinha uma consciência de quem era seu povo, do chamado para que fosse uma benção para todas as nações e não se contaminasse com elas, procura confirmar a fé, sustentar a esperança e animar as comunidades para que não se deixem seduzir pelas novidades, pela vida fácil, idolátrica e injusta, de modo a sublinhar que a sabedoria que brota da fé e conduz a vida dos israelitas é superior à que inspira o modo de viver dos habitantes de Alexandria. Para alcançar este objetivo relembra a história dos antepassados e os feitos de Deus (Sl 77 (78) 3-8). Esta lembrança do passado reforça a identidade do povo judeu, fazendo-o lembrar-se de quem os resgatou, elegeu e escolheu, tornando-o capaz de resistir no presente e caminhar com nova luz para o futuro.
 
DIVISÕES DO LIVRO:
  1. 1-5: descreve-se a oposição do destino dos justos e dos ímpios, à luz da fé; sendo a justiça imortal. A sabedoria é apresentada como fonte de felicidade e da imortalidade.
  2. 6-9: elogio da sabedoria, elevando-a acima dos valores mais apre­ciados neste mundo. Esta parte termina com oração de Salomão para pedir a Sabedoria.
  3. 10-19: apresenta a Sabedoria e a justiça atuando na história, principalmente o Êxodo. Esta parte subdivide-se em três temas:
a)    10-12: a Sabedoria salva os justos e castiga os injustos.
b)    13-15: a idolatria é o caminho oposto da Sabedoria.
c)     16-19: lembrança da história do Êxodo com um forte contraste entre o destino de Israel e o dos egípcios.
 
LIÇÕES DESTE LIVRO:
a.Fortalecimento da fé: As provações, perseguições, humilhações que os judeus estão passando preparam para a vida eterna (imortalidade da alma - Sb 4,7-14; 1 Tm 4,8b; 6,12).
b.Abandono da fé:Os judeus eram tentados a seguir o modo de vida dos ímpios, a renegar a sua fé, tanto pela perseguição ou pelo ridí­culo a que eram sujeitos por causa das práticas dessa fé, como pela vida moral fácil que os alexandrinos levavam, em contraste com as exigên­cias apontadas pela Lei (2,1-20). Muitos abandonavam a fé judaica, o seguimento da lei e seguiam o caminho mais fácil, que Jesus mais tarde chama de ‘porta larga’ em contraste com a ‘porta estreita’ (Mt 7, 13). O justo, aquele que pratica a sabedoria que se manifesta pela justiça, nos seus três sentidos bíbli­cos: como vir­tude da equidade, isto é, dar a cada um o que lhe per­tence; como cum­pri­mento perfeito da vontade de Deus; e, final­mente, como força ou ação de Deus, que nos livra de toda a espécie de mal, terá sua recompensa (3,9; 5,15-16). Vale a pena permanecer no caminho do Senhor, pois o ímpio tem a vida cheia de maldições (3,10.16-19; 4,3-6).
c.A verdadeira sabedoria: Para os gregos, a sabedoria era um meio para chegar ao conhecimento e contemplação divina, é o homem buscando soluções em si mesmo até para chegar a um deus. Os gregos sempre procuraram e valorizaram muito a sabedoria (1 Co 1, 22). O livro mostra a visão judaica da sabedoria como uma proposta de vida, uma pessoa que está presente em toda a vida e a dirige; que fala, estimula e argumenta.É o reflexo da vontade e dos desígnios de Deus (9,13.17); porque partilha da própria vida de Deus e está associada a todas as suas obras (8,3-4) e tem a ver com o espírito de Deus (1,6; 7,7.22-23; 9,17); ela prefigura o amor e a sabedoria de Deus que culmina em Jesus Cristo, também chamado “Sabedoria de Deus” (ver 1 Cor 1,24.30). A verdadeira sabedoria é Jesus. Só nEle podemos chegar a Deus. Nele reside toda ciência, todo poder (Col 2, 3). Os homens hoje continuam com este coração endurecido, buscando uma sabedoria humana, um conhecimento que faça dele mesmo um deus, ou autor e dirigente de sua vida, independente e auto-suficiente, a idéia central é o homem pode fazer o que quiser, inclusive resolver seus problemas sem precisar de Deus ou de outra ajuda externa; basta ver a quantidade de livros de auto-ajuda com fórmulas que, se forem seguidas, trarão a felicidade e realização. Como exemplo,  o livro “O Segredo”, com passos para se obter tudo o que se desejar (Tg 3, 13-18).
d.           Idolatria: Deus rejeita profundamente a idolatria porque ela é causa dos males da humanidade (Sb 14,27). É por não temerem e não crerem no único e verdadeiro Deus, criador de todas as coisas, que os homens praticam toda espécie de mal (Sb 14,22-26). Quando um governo é idólatra, seu sistema político e o que ele representa, rejeita o Deus vivo, justo e verdadeiro trazendo todo tipo de opressão e injustiça. Basta vermos nos dias de hoje, o “mercado”, com suas leis, seus sacerdotes (economistas), seus templos (bolsa de valores, bancos, shoppings); a injustiça que tem caracterizado o nosso mundo tem como ídolo o mercado. É ele quem determina se é melhor salvar interesses financeiros ou vidas humanas. O consumo frenético transforma a posse real ou simbólica de bens em possibilidade do alcance da felicidade plena, dessa forma, as conseqüências negativas são encaradas como ‘mal necessário’, tais como o desemprego, a exclusão, a concentração de rendas, etc. Paulo já dizia que a avareza (excessivo e sórdido apego ao dinheiro; cobiça; mesquinhez) é idolatria (Cl 3,5).
Todo ídolo sempre exige sacrifícios implacáveis (Os 11,2), que não passam de sacrifícios oferecidos a demônios (1 Co 10, 18-20) e consome àqueles que os cultuam (Sb14,12). Um idólatra é um escravo das idéias depravadas que seus ídolos representam (Gl 4, 8-9; Tt 3,3). A idolatria é o oposto da sabedoria. Enquanto a sabedoria traz bênçãos, a idolatria só traz maldição e injustiça.
Embora escrito há mais de 2000 anos, este livro nos traz mensagens importantes e atuais. Nele aprendemos a importância de permanecermos fiéis à nossa fé e doutrina, independente do que o mundo moderno nos diz. Mostra também que o destino dos ímpios é terrível, mas a vida e a felicidade eterna estão reservadas para os justos, aqueles que não abandonarem o caminho de Deus. Tudo isso é possível através do caminho da sabedoria, que é o caminho da justiça, que por sua vez está totalmente centrado em Jesus. Fora dEle, só há idolatria, engano, maldição e injustiça.
 
QUESTIONÁRIO
 
  1. Qual o objetivo dos judeus escreverem na língua grega?
  2. Quem é o autor e  a data em que o livro foi escrito?
  3. Para quem o livro foi escrito?
  4. O que é diáspora?
  5. Por que havia o perigo de contaminação dos judeus com os povos pagãos?
  6. Qual a relação entre Rm 12,2 e a ‘helenização’ dos judeus?
  7. Quais a lições deste livro?
  8. Em sua opinião como a imortalidade da alma pode fortalecer a fé?
  9. Porque a ‘porta larga’ nos leva a abandonar a fé? Como podemos permanecer firmes na ‘porta estreita’?
  10. Por que a idolatria é tão abominável para Deus?
  11. Quais os tipos de idolatria que encontramos hoje?
  12. Comente a frase: “Um idólatra é um escravo das idéias depravadas que seus ídolos representam”.
  13. Qual a relação que podemos fazer das lições deste livro com os dias atuais?
  14. O que mais te marcou neste livro?
DICIONÁRIO:
HELENIZAÇÃO: Processo de tornar alguém ou algo como um heleno. Os helenos eram os habitantes da antiga Hélade (grécia) e, portanto, helenizar é tornar alguém ou algo parecido com  um grego ou com a cultura grega. Seria o correlato hoje de ‘americanizar’, ou seja, tornar um povo de outro país parecido com os americanos, com os seus costumes e cultura.