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Jejum / Piedade - jejum
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PIEDADE
 
“A conversão se realiza na vida cotidiana através de gestos de reconciliação, do cuidado dos pobres, do exercício e da defesa da justiça e do direito”.       Novo Catecismo, it 1435, p. 343.
 
            Piedade é a forma de externar a vida religiosa interior; a devoção particular; o amor às coisas religiosas. Para os judeus a vida piedosa compunha-se basicamente de oração, jejum e esmolas (Tb12, 8-10), que manifestam a conversão para com Deus, para consigo mesmo e para com os outros. Jesus ratifica esta vida de piedade, dando a ela os matizes da nova aliança (Mt 6,1-18).
       Paulo ordena que nos exercitemos, isto é, pratiquemos a piedade, como forma de herdarmos promessas do Senhor tanto nesta vida quanto na futura: “Exercita a piedade. A ginástica corporal é de pouco proveito, mas a piedade é útil para tudo. Ela tem promessas para a vida presente e para a futura”.(1 Tm 4, 7b.8).
       Paulo afirma ainda, ser Jesus o mistério da piedade (1 Tm 3,16); portanto, toda vida religiosa só pode ser realmente piedosa, se tiver sua origem em Jesus Cristo, isto é, se for uma conseqüência da vida de Jesus dentro do cristão; do contrário resultará numa vida com “aparência de piedade”, mas que em sua essência está longe de Jesus (mistério da piedade) e dos frutos que advém daqueles que realmente estão ligados à videira (Jo 15,5).
       Podemos perceber que a piedade conforme criam os judeus é uma forma de vida, daquele que pratica todas as boas obras e tem bom testemunho de sua vida religiosa, seguindo os mandamentos e preceitos de Deus. Tobit é um forte exemplo do que seria um judeu piedoso. Em Tb 4,3-19, temos um resumo desta prática da piedade para seu tempo.
       Tanto Paulo quanto Pedro exortam seus fiéis levarem uma vida piedosa (1 Tm 5,4; 6,3; 6,6.11; 2Pe 1,3.6; 3,11); e temos a promessa de que Deus livrará da provação que reserva para os ímpios (2Pe 2,9).
       Vamos estudar as três formas de viver esta vida de piedade: jejum, oração e esmola.
 
Jejum
    
       É a abstinência total ou parcial de comida e bebida, e às vezes de relações sexuais. Os judeus vestiam-se de saco, raspavam a barba e cobriam a cabeça de cinzas (Jl 1,13). Tinha o caráter de auto-humilhação e era acompanhado de oração. Estes rituais exteriores tinham a função de tirar do homem suas preocupações com o que é da carne (o que comer, o que vestir, sua aparência); com o pó lembrava de que tudo isto é passageiro, pois o homem é pó e ao pó voltará. No Jejum a única preocupação deveria ser o Senhor.
        A Lei mosaica conhece apenas um dia de jejum oficial: o dia da Expiação (Nm 29,7; At 27,9). Com o tempo o jejum passou a ser recomendado em épocas de provações e calamidades nacionais (2Cr 20,3; Ne 1,4; Et 4,16).
       Após o exílio se introduziu outro dia de jejum, que deveria ser observado nos mesmos moldes do dia do perdão, no 5o mês, em comemoração à destruição do templo (Zc 7,3-5). Depois se multiplicaram os jejuns, para pedir a misericórdia divina (Jn 3,5; 2 Sm 12,16) e até para usar o jejum como subterfúgio para realizar um intento maligno (1 Re 21,9.12).
       Com o tempo, como o jejum era uma forma de demonstrar piedade, passou a ser feito indiscriminadamente, até o ponto de Jesus fazer uma crítica a este tipo de farisaísmo (Lc 18,9-13), demonstrando que jamais o jejum pode ser uma forma de se elevar, se orgulhar, mas deve ser sempre uma forma de arrependimento e humilhação diante do Senhor.                       Infelizmente este ‘fermento dos fariseus’ (Mt 16,6) ainda existe na igreja e na nossa forma de expressar nossa devoção, de forma que muitas vezes nosso jejum é meramente ritualístico, mais como forma de “cumprir uma obrigação religiosa” e outras vezes, quando conseguimos realizar nossos jejuns a contento, será que não nos orgulhamos de consegui-lo?
       Os discípulos de João jejuavam, assim como os fariseus, com a finalidade de, por sua piedade, apressar a vinda do Reino (Mt 9,14-15). Jesus lhes mostra que Ele (o noivo) era o motivo pelo qual jejuavam, e já estava na Terra (eles estavam tão preocupados com o jejum em si, que não puderam discernir que o Reino já havia chegado). Os discípulos de Jesus (a comitiva nupcial), não podiam jejuar porque o noivo estava com eles, isto é, o Messias; porém, quando Jesus se fosse, eles passariam a jejuar até a volta do noivo.
       Este trecho demonstra a importância do jejum no cumprimento dos propósitos de Deus para que Jesus possa voltar. Só não podemos cair na tentação de estarmos tão preocupados com os rituais, que esqueçamos o coração ardendo pelo cumprimento dos propósitos de Deus, como foi o caso de Ana, a profetiza, que servia a Deus noite e dia com jejuns e orações (Lc 2,36-38).
       Não é interessante que entre tantos judeus que jejuavam na mesma época pela vinda do Messias, somente Ana e Simeão reconheceram que Jesus era o Messias, tão logo o viram? O que fez a diferença? Certamente foi o coração. A Palavra cita que Simeão esperava pela consolação de Israele o Espírito Santo estava com ele (Lc 2,25-28) e Ana falava a todos que esperavam a redenção de Jerusalém. Ambos esperavam por esse dia, e empregaram seus dias para ver o cumprimento dessa esperança. Aprendemos com eles, que o jejum acompanhado de oração, é a conseqüência de um coração que espera ardentemente pelo cumprimento das promessas do Senhor e para ver o cumprimento dessas promessas investe sua vida.
            Quando o jejum não vem precedido por um desejo ardente de ver uma promessa, um propósito de Deus cumprido aqui na Terra, ele corre o sério risco de ser apenas um ritual. Mas, como deve ser o jejum que agrada o coração de Deus? É um jejum que vem acompanhado de penitência, conversão, palavra que vem do grego metanóia (metánoia) e significa “transformação fundamental de pensamento e/ou caráter”. Inclui um profundo pesar e arrependimento pelos pecados cometidos. Em Joel 2, 12.13, o profeta apela para uma penitência interior, do coração:
Agora, portanto –oráculo do Senhor –retornai a mim de todo o coração, com jejum, lágrimas e lamentações. Rasgai os vossos corações e não as roupas, retornai ao Senhor vosso Deus, porque ele é bondoso e misericordioso, lento na cólera e cheio de amor, e se compadece da desgraça “.
       Rasgar as roupas era um sinal de luto e tristeza para os judeus, mas esta tristeza deve estar no coração, que se eleva em oração com lágrimas e lamentações. É surpreendente como Deus atenta para as lágrimas de seu povo, porque elas brotam do coração. As orações acompanhadas de lágrimas alcançam diretamente o coração de Deus (2 Re 20,5; Sl 125,5; Is 38,5; At 20,19;). Até Jesus regou suas orações com lágrimas (Hb 5,7)! Que o Senhor possa nos conceder “o dom das lágrimas”, de chorar, entristecer-se e lamentar pela situação da igreja nestes dias, de forma que brote em nossos corações um ardente desejo do cumprimento da promessa de Deus por um derramar do Espírito Santo sem precedentes sobre Seu povo, a fim de que a igreja torne-se gloriosa e o Senhor Jesus finalmente retorne!
       Em Isaías 58,5-12, o profeta ensina como praticar um jejum realmente piedoso que vem do coração, para que não seja simplesmente uma “greve de fome”, ou um ritual exterior e sem significado. No vs. 3, o povo pergunta o porquê Deus não liga para a “mortificação” deles. Muitas vezes jejuamos, ficamos sem comer, ou fazemos um outro sacrifício qualquer e achamos que estamos praticando algo “grande”, que agora é “obrigação” de Deus nos atender, como se ele de alguma forma se beneficiasse ou necessitasse de nossos sacrifícios. Ele deixa bem claro que não precisa disso (Os 6,6), o que Ele quer é um coração quebrantado e arrependido (Sl 50,19). Precisamos entender que o jejum não muda os planos de Deus, antes colabora com eles. No caso de Davi, não adiantou que jejuasse pela salvação da morte de seu filho com
Beteseba, pois esta não era a vontade de Deus, mas no caso dos ninivitas, o jejum serviu para colaborar com a vontade do Senhor, pois Ele queria salvá-los (Jn 3, 3.9-10). O jejum não muda a Deus, muda a nós.
       A resposta do Senhor à pergunta vem em seguida: no dia do jejum, correm atrás dos próprios interesses (egoísmo). Ao invés de um dia dedicado a buscar o Senhor e o desejo de Seu coração, é um dia normal. Onde estão o arrependimento, as lágrimas, as lamentações? Onde o desejo ardente de que o propósito de Deus se cumpra? Onde a conversão e conseqüente mudança de vida? Quantas vezes o dia de jejum não é para obter algum favor do Senhor, não para edificação da noiva, mas para nosso próprio deleite e satisfação? Tiago nos adverte: Não obtemos o que pedimos porque pedimos mal, para gastarmos em nossos próprios interesses (Tg 4,2). O que move o nosso coração para que jejuemos, nossos interesses ou o interesse do Senhor?
       Os versos seguintes são conseqüência do egoísmo: explorar os trabalhadores (injustiça social); brigar e contender; ferir o outro (com gestos ameaçadores, violência, agressão verbal, atitudes mesquinhas, omissões, etc.). O Senhor é claro ao dizer que não quer este jejum exterior, ritualístico, com aparência de piedade, mas muito longe dela. Em Mt 25, 31-46, o Senhor afirma que seremos julgados pelas obras de misericórdia, pelas pequenas ações do dia-a-dia e não pelas ações excepcionais (Mt 7,21-23). Santa Terezinha tornou-se uma grande santa, não por ter feito milagres maravilhosos ou sinais estupendos, nem por ser mártir, mas por viver a maior das vocações: o amor.
       O Senhor manifesta o jejum que lhe é agradável: praticar o amor sem medidas; sem esperar recompensa ou reconhecimento; nas pequenas coisas para que possam ser praticadas nas grandes. Um amor que se manifesta num total abandono a Deus, pois não conseguimos por nós mesmos praticá-lo. É deixar que nas mínimas situações de cada dia nossa alma possa encontrar a morte. É não fugir do sofrimento que traz a morte do ego, através da renúncia de nossa vontade em benefício do outro. É assim que se “rompe os grilhões da iniqüidade, as ataduras do jugo”. O jugo é a canga que se coloca sobre os bois, para mantê-los presos e sob domínio.
            Quantas “cangas” colocamos sobre os outros para podermos dominá-los... Quanto jugo não trazemos sobre nós mesmos e temos sido oprimidos por isso? O jugo do ódio, da mágoa, do orgulho, da preguiça, do conformismo, do medo, da religiosidade, da inferioridade, etc. O Senhor deseja que em nosso jejum, coloquemos em liberdade a todos os que oprimimos e a nós mesmos. Quando perdoamos, ou renunciamos a ter uma vontade nossa satisfeita em favor do outro, liberamos a vida desta pessoa e quebramos o jugo que colocamos sobre ela.
       Cabe a nós também romper as cadeias, as algemas da injustiça, da maldade. Fazemos isso ao reconhecer o direito de cada um, isto é, ao amar o próximo. Quanta coisa fazemos em nome dos “nossos direitos”. Quantos pecados cometemos para fazer valer esses “direitos”... É por isso que existe tanta injustiça no mundo. Cada um quer olhar apenas para seus direitos egoístas. É por isso que existe tanta injustiça em nossos lares, grupos de oração, paróquias, cidade, país.
       A resposta do Senhor continua: repartir o pão com o faminto, recolher o desabrigado, vestir o nu, não se recusar a ajudar o próximo. É praticar a justiça social, tão ausente em nossos dias (Zc 7,8-10; Mq 6, 8; Jr 7,5-10; eclo 4,1-10).
       Ao termos uma vida realmente penitente, nosso jejum será ouvido pelo Senhor e as bênçãos virão: luz, cura, justiça, glória do Senhor, resposta ao nosso clamor. Enfim o Espírito Santo virá sobre nós e a igreja se tornará gloriosa, porque será restaurada, curada, um jardim regado, um manancial de águas vivas. Os escombros serão restaurados e a igreja poderá ser uma benção para todos os povos!
       Que nestes dias o Senhor levante em Sua Igreja homens e mulheres dispostos a jejuar segundo o coração de Deus, retornando para o Senhor, convertendo-se e transformando as suas vidas e a vida da Igreja.
 
 
      
“O amor nutre-se de sacrifícios. Quanto mais a alma se nega às exigências da natureza, tanto mais robusta e abnegada se torna sua ternura. Eis aí tudo o que Jesus exige de nós. Não precisa de nossas obras, mas unicamente de nosso amor.”
 
                                                                                  Santa Terezinha do Menino Jesus