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As Armas Espirituais - parte 3

ARMAS ESPIRITUAIS ( parte 3 )


" A tradição espiritual da Igreja insiste também no coração, no sentido bíblico de "fundo do ser"
(Jr 31,33), onde a pessoa se decide ou não por Deus." Novo catecismo it.368, pg. 94

...VESTINDO A COURAÇA DA JUSTIÇA ( Ef 6,14 )

A couraça da justiça, refere-se ao "peitoral" ( thoraks ) de uma armadura. Consistia de duas partes, chamadas "asas". Uma delas cobria a região inteira do peito, a parte frontal do tórax, protegendo os órgãos vitais ali contidos; e a outra parte, uma parte das costas. Eram fabricados de couro, bronze, ferro e outros metais, podiam ficar de pé quando eram postos no chão, de tão rígidos. Alguns soldados usavam peitorais de linho, mas a história nos conta como Galba (imperador romano em 68, 69 d.C) foi morto pelos soldados de Oto, por usar um peitoral de linho e não um de material mais resistente.
Em Is 59,17 há uma referência a este peitoral, como sendo usado pelo messias, apresentado como um guerreiro que intervém à favor de Seu povo sofrido, para quem é todo salvação. Observemos o preparo do messias, a colocação das vestimentas para depois atacar e derrotar o inimigo, completando Sua missão e vitória. Jesus é "o Justo" por excelência, Ele consumou toda a Lei e os profetas, não foi encontrado nEle nenhum pecado, nenhuma mancha. Ele preencheu todo o rígido padrão de Deus para a justiça, por isso os infernos não puderam retê-Lo na morte e ressuscitou, recebendo um Nome que está acima de todo Nome (Ef 1,20-21)! Esta justiça é que nos vem por meio da fé (Rm 3,21-26). Em 1Tes 5,8 o peitoral aparece composto pela fé e amor. É pela fé que nos vem a justiça de Deus. Nada precisamos fazer para ser considerados justos. Jesus já fez tudo o que precisava ser feito e satisfez toda a necessidade de Deus. Quando cremos em Jesus e em Sua obra, nos revestimos desta justiça. Não é merecimento nosso, é GRAÇA de Deus! Não há necessidade de obra para ser justificado, pois não há nada que possamos fazer que possa ser considerado justo diante de Deus. As obras que por ventura possamos realizar como cristãos, já nos foram preparadas de antemão, antes da fundação do mundo e já estão em Jesus (Ef 2,10), por isso nada é merecimento nosso: qualquer obra de Deus que possamos realizar já nos foi preparada e não é iniciativa nossa, portanto não há nada do que se gloriar (Ef 2,9). Muitos cristãos deixam de receber bênçãos, que fazem parte de Sua herança porque acham que não são merecedores, e não o são mesmo! A grande verdade é que não recebemos nada por merecimento e sim por graça! Quando nos aproximamos de Deus não o fazemos pela nossa justiça (se fosse assim morreríamos), mas pelo novo e vivo caminho aberto para nós por Jesus através de Seu sangue (Hb 10,19-20). A justiça não é nossa é de Jesus! É com esta justiça que nos revestimos como que de uma couraça, para lutar contra o inimigo. Se lutarmos contra ele baseados em nossa justiça, estaríamos fritos. Mas é Jesus quem nos justifica, quem pode nos condenar (Rm 8, 33-34)?
Vamos estudar um pouco como somos protegidos nesta luta por esta couraça da justiça. O principal órgão vital que é protegido pelo peitoral é o coração. Na bíblia, além de órgão humano ou animal, é também visto como sede do homem interior ( 1Pe 3,4; 1Sm 16,7). É a sede da vida intelectual, dos pensamentos (Dn 2,30; 1Re3,12; Dt 15,9a), da dúvida (Mc11,23), dos sentimentos e paixões (Dt 6,5; 1Sm 2,1; Pv 15,13), da vontade (Sl 36 ou 37,4), da parte do ser que se abre ou fecha para Deus (Ex 7,3; Dt 4,29 )por isso o coração representa o homem todo (Jl 2,13) e somos aconselhados a sobre todas as outras coisas, guardar o nosso coração, pois dele procedem as saídas da vida, isto é, tudo o que referimos acima (Pv 4,23). Jesus reafirma que é do interior do coração que provêm os sentimentos (Mc 7,21-22).

Não precisa nem dizer o quanto satanás deseja atacar esta área. Se ele atingir o coração, atinge o homem todo, pois é um órgão vital. Uma vez atingido, as conseqüências são sérias; se alguém for ferido no braço ou perna poderá escapar, mas se for ferido no coração, quase sempre a ferida é mortal. Por isso o inimigo quer apoderar-se do coração do homem para servir a seus propósitos maus (Jo 13,2; At 5,3).
Fica claro, pois, que devemos estar atentos a tudo o que provem de nosso interior, sejam sentimentos (medo, inferioridade, culpa, insegurança, , angústia, ansiedade, mágoa ), emoções (ira, ódio, tristeza, frustração ), vontades (desejos, aspirações), pensamentos ( idéias, reflexões, lembranças, imaginações ).
Algumas pessoas possuem brechas em algumas destas áreas, isto é, algumas deixam-se dominar por seus sentimentos: cedem facilmente aos apelos sentimentais e deixam-se dominar por eles; guiam-se pelo que sentem; partem dos sentimentos nos seus relacionamentos, tanto com Deus como com os homens. Costumam ser atacadas com sentimentos enganosos, ou seja, o diabo "deturpa" os sentidos e os fatos para que a pessoa sinta medo, ou inferioridade, ou seja dominada por angústias, mágoas, etc. Outras são dominadas pelas emoções, isto é, são impulsivas, reagem de forma explosiva e não têm constância, ora estão muito bem e daí a pouco já estão mal; passam rapidamente de um estado emocional para outro. Outras têm sua fraqueza na área da vontade: são dominadas por seus desejos e agem mais por instinto; não conseguem resistir, não têm disciplina, têm dificuldades para jejuar ou se abster do que gostam, cedem facilmente ao vício, não terminam seus propósitos. Outros ainda, têm dificuldades na área do pensamento, são pessoas dominadas pela imaginação (que as leva à desejos pecaminosos e à fantasias ), ou pela razão (tudo tem que ser explicado racionalmente), ou por idéias que não saem de sua cabeça, ou vivem lembrando o passado.
O melhor que temos é reconhecer nossas fraquezas e brechas para ser fortalecidos pelo Senhor nestas áreas, ao invés de dizer " eu nasci assim e não vou mudar", ou então, " este é meu jeito e ponto final". Para haver mudança, é preciso haver disposição no coração. O Senhor nos dá a receita: não dar lugar ao diabo e humilhar-se (Ef 4,26,27; 1 Pe 5,6-9).
Neste trecho de efésios, aprendemos que não podemos ser complacentes com nossas atitudes. Poderíamos tomar a palavra ira, e substituí-la por qualquer tipo de sentimento, emoção, vontade ou pensamento vindo de nosso interior. Por exemplo, "sinta, emocione-se, pense, deseje, mas não peque; não se ponha o sol sobre estas coisas, nem dê lugar ao diabo." Isto significa que não devemos alimentar nenhuma destas coisas e nem permitir que elas permaneçam em nós, pois isso seria dar lugar ao diabo. Existe um pensamento chinês que diz: "você não pode impedir que um pássaro voe sobre sua cabeça, mas pode impedir que faça um ninho sobre ela". Você não pode impedir que um pensamento aflore em sua cabeça, ou que uma determinada emoção surja em seu coração, mas pode impedir que elas fiquem arraigadas e conduzam ao pecado. Temos que cortar o mal pela raiz; é mais fácil apagar o fogo de uma folha do que de uma floresta, é mais fácil arrancar uma pequena erva, do que uma grande árvore. Não podemos deixar que nenhum tipo de coisa negativa se enraíze em nosso interior. O sol não deve se pôr, sem que as tenhamos eliminado por completo, se passarmos para o outro dia estaremos dando lugar, espaço, para o diabo.
No trecho de 1Pedro, aprendemos a lidar com nossas atitudes erradas: humilhando-se. Como? Reconhecendo e arrependendo-se dos erros. É um comprometimento com a verdade. Cada vez que ferimos a verdade, precisamos de humilharmo-nos. Assim como tomamos banho pelo menos uma vez por dia, e se nos sujamos tomamos outro banho, assim também é com o pecado. Pecou, arrependeu. Uma pessoa que fique um mês sem tomar banho estará dando lugar para que micróbios, parasitas, vermes, tomem conta de seu corpo; assim também uma pessoa que resiste a Deus e acumula pecados, dá lugar aos espíritos malignos. Humilhar-se é reconhecer e corrigir os erros que percebemos em nós.
Enfim, depois de tratadas as feridas e consertadas as fraquezas, protegemos estas áreas com a justiça, que vem pela fé e se traduz em amor ( Rm 10,4 ). Cristo é a nossa justiça. Ao nos revestirmos da justiça, nos revestimos de Cristo. Cristo passa a suprir toda a nossa necessidade de justiça, santidade, graça. Quando aflora o medo, Cristo nos supre com Sua coragem; quando aflora a culpa, Cristo nos supre com o perdão e assim, para cada tipo de fraqueza, Cristo tem o suprimento certo.
Vejamos o que a Palavra nos ensina sobre justiça:
- Is 54,17; Jr 23,6; Rm 3,21-22; 2 Co 5,21; e revistamo-nos dela, pela fé!